Modinha na Lutinha #01 — “Camp: Notes of Seth Rollins"
E aí pessoal, cês tão bem, cês tão bons?! Eu espero que vocês estejam muito bons! Pois bem, antes de começar de fato este “editorial”, acho que vale uma pequena apresentação da minha própria pessoa, porque com toda certeza, grande parte do “público — alvo” desse texto meio que não deve me conhecer e provavelmente vai se perguntar “Quem é esta moça? Nunca vi por aqui!”
Enfim, paz de Cristo irmãos! Eu sou Myh Santos, acabei de completar 25 anos e também acabei de realizar o meu maior sonho: fazer minha faculdade de moda. Eu amo esse universo desde que me conheço por gente, assim como eu também amo a luta- livre (tá, aaaaamo é uma palavra bem forte, digamos que eu tenho um apreço muito grande pela arte).
Talvez estes sejam os dois temas que eu mais goste de falar e foi justamente pensando nisso, resolvi unir minhas habilidades analíticas de moda com todo o material riquíssimo de outfits e ring attires que os grandes e pequenos superastros do mundo do Pro-wrestling podem fornecer e que vão me inspirar a escrever não somente este, mas muitos outros editoriais. Então assim, apresento-lhes o Modinha na Lutinha (nome que julgo ser bem maneiro).
Dito isso, convido os senhores a entrar na minha pequena boutique, embarcar no universo fashion e notar que sim, moda e wrestling tem lá suas coisas em comum. Vem com a Tia!
Nas últimas semanas vimos algumas aparições de Seth Rollins no Smackdown e seus figurinos que não tinham condições de passar despercebidos. A comunidade de fãs de lutinha BR era unânime em dizer que aquilo era no mínimo brega demais e que Seth, assim como Nego Di, era um inimigo declarado da moda, inclusive eu, sim, eu mesma. Foi necessário 1 mês assistindo aquele show de bizarrice pra virar uma chavinha no meu cérebro e buscar a explicação que melhor se encaixa com esses looks. Desde já, peço desculpas ao figurinista de Seth por todos os xingamentos e momentos de revolta que tive ao ver os ternos super coloridos do homem.
Eu sempre digo que moda é algo que vai de pessoa pra pessoa, cada um tem um estilo único, estilo esse que podem ter elementos que se encaixam com certas estéticas ou tendências que vira e mexe ficam em evidência, o melhor exemplo disso, são as peças dos anos 90, peças essas que antes eram vistas com olhos atravessados, mas que voltaram a estar na moda em tempos atuais (agradeço todos os dias por isso por motivos de POCHETE!). E como tudo no universo da moda tem porque de ser e de acontecer, o Modinha na Lutinha vai trazer Seth Rollins e o estilo “Camp”.
Eu fui a pessoa que mais criticou os figurinos do Rollins, pedi a cabeça do figurinista, pedi até emprego pro velho Vince. Eu tava tendo aquela visão comum de espectadora, então achava tudo uma completa cafonice e uma ofensa à minha futura profissão, até que a chave virou na minha mente e a partir daí, comecei a analisar os outfits do nosso Architect de um modo diferente, como uma estudante e futura profissional de moda. Eis que cheguei no insight que clareou minhas ideias. Seth Rollins carrega fortes elementos da estética camp em seus figurinos.
“Ok Tia Myh, mas o que raios é camp? É de comer?”
Vamos a uma definição rápida:
Camp é uma gíria para comportamento, atitude ou interpretação exagerada, artificial ou teatral ou ainda um adjetivo que significa algo de mau gosto, muito artificial, exagerado, cafona ou brega. A palavra “camp” vem do verbo francês “se camper”, que se traduz em “fazer uma pose exagerada”, um subproduto da exuberância da corte francesa durante o governo de Luís XIV.
Foi durante o reinado de Luís XIV que começaram a surgir mudanças mais rápidas na moda, coisa que antes era algo raro de se acontecer. A classe média começou a ascender e assim começaram a copiar os padrões de vestimenta dos mais nobres, que por sua vez, odiavam tal fato e começaram a criar códigos de vestimenta para que a burguesia não se adiantasse em copiá-los, fazendo com que surgisse o ciclo de tendências que conhecemos hoje.
Camp é tudo aquilo que atrai o olhar pelo que é considerado de mau-gosto ou que tenha uma provocação irônica pela inadequação.
Essa estética foi tema da exposição do Costume Institute do Museu Metropolitan, de Nova York, e do baile mais badalado e esperado pela elite americana e a nata das celebridades internacionais, o Met Gala. A fonte de inspiração para o tema do Met foi um texto de 1964 escrito pela ensaísta Susan Sontag, intitulado “Notas sobre o camp”. Para Susan, o camp é algo tão escandalosamente artificial, afetado, inadequado ou desatualizado a ponto de ser considerado divertido.
Acho que depois de entender um pouco do conceito e de ver algumas imagens, espero ter conseguido clarear um pouco a mente de vocês e agora sim vocês vão poder observar junto comigo 3 elementos da estética Camp presentes nos figurinos “bizarramente bregas” de Seth Rollins.
Lembrando que tô fazendo essas comparações no que diz respeito aos figurinos das aparições e não das ring attires, essas vão ficar pra um outro momento.
Tecidos // Texturas
Tecidos fluidos, tule, plumas, efeitos metalizados e envernizados são elementos que fazem parte de peças do estilo camp e o que eu escolhi para representar esse tópico é o efeito envernizado, presente em peças como por exemplo a que Kim Kardashian usou no pink carpet do MET Gala de 2019. O truque trás para a peça um aspecto de brilho envernizado ou um efeito plástico, no caso da Kim, o look extremamente justo em composição com os vários cristais espalhados no entorno, dão a ilusão de que ela acabou de sair da água.
*Curiosidade: Kim usou um corset e uma cinta para afinar ainda mais sua cintura. O negócio foi tão extremo que ela não conseguia nem se sentar e ela teve que ir em pé dentro da van que a levou ao evento. Bizarro.
Esse mesmo aspecto de brilho pode ser visto através do couro sintético (eu espero que seja sintético né) neste terno usado por Seth Rollins em seu retorno ao Smackdown no dia 21 de fevereiro desse ano, quando entrou em rivalidade com Cesaro (este que também merece uma análise futura pois acho que ele banca muita elegância). Seth estava quase em All Black, com um terno slim completamente feito em couro, inclusive a gravatinha vermelha, o que pra uma primeira aparição estava “aceitável” aos olhos do público, nada que fosse muito agressivo e ofensivo ao tribunal da Moda kk.
*Menção honrosa para o tule e para a transparência, presentes na roupa que a Becky tá usando na imagem 3 desse texto. Eu particularmente amo o volume que o tule quando usado em muita quantidade pode trazer em determinadas peças, eles não só podem trazer um tom de extravagância, mas também um ar romântico e delicado, como por exemplo as saias de princesa.
Cores fortes e vibrantes
O camp usa e abusa das cores vibrantes, quanto mais saturadas, melhores. Inclusive os tons de verde, rosa, amarelo e tons de neon que foram fortes tendências durante o verão e que estão sendo trazidas também para o inverno desse ano. Cores mais saturadas como o vermelho também não ficam para trás (inclusive eu AMO tom de vermelho daquele tipo sangue, é uma cor absurdamente bonita). O look de Jared Leto, que fez questão de levar a própria cabeça para o Met Gala destaca muito isso.
O figurino usado por Seth Rollins no Smackdown do dia 28 de maio, uma semana após o ataque brutal em cima de Cesaro (cujo outro figurino também se encaixaria nesse tópico) seria uma boa escolha para ir a um Met Gala se ele fosse convidado. Aqui vemos uma estampa bastante rica tanto em desenhos de folhagem como nas combinações das cores verde e roxo. Esse foi o primeiro figurino que de fato eu gostei, porque as cores e a estampa conversaram muito bem junto com o comportamento e a postura de Seth naquele momento.
Estampas, muitas estampas!
Outro elemento que marca presença na estética camp são as estampas. Assim como as cores, quanto mais, melhor (aliás, a regra do camp é o mais é muito mais). Existem padrões mais sutis do que as vistas no figurino acima, mas que podem ganhar destaque quando usadas com cores ou texturas mais carregadas. Um exemplo vem do outfit todo em efeito metálico prata de Lewis Hamilton (Alô F1Amigos) diretamente do pink carpet do Met.
Ainda sobre as estampas, eu já havia falado um pouco sobre o mix de estampas num primeiro texto que escrevi, linkando tendências de moda com ring attires de 6 superestrelas da WWE. Esse mix de estampas é muito presente nas attires da nossa Imperatriz do Amanhã e melhor pessoa do mundo, Asuka. Lá eu também mencionei que o segredo pra misturar estampas sem que elas pareçam desconexas é eleger estampas que tenham pelo menos 1 cor em comum entre elas, ou algum elemento que esteja nas duas peças. Essa é uma dica pra quem ainda tem medo de ousar nesse quesito haha. Vocês podem conferir essa espécie de “piloto” do Modinha no link abaixo.
Um figurino que se assemelha muito ao de Hamilton é esse terno todo em estampa com desenhos geométricos dourados usado na Wrestlemania 37 por Seth Rollins. Esse é um dos mais chamativos do acervo do arquiteto, mas claro, o evento do porte da Wrestlemania merece tal visual.
Eu tenho certeza que você que tá lendo aí do outro lado tá esperando que eu fale dele, do look que talvez seja um dos que mais chocou a galera que é fã de lutinha e que foi o motivo do meu colapso estilístico e pensamentos como “SANTA DONATELLA VERSACE, O QUE ESTÃO FAZENDO COM ESTE HOMEM, OLHA PRA ISSO!!”
Eu arranquei meus cabelos, meus olhos arderam, mas eu fecho esse texto com o icônico terno que eu carinhosamente apelidei de “Inferno Fashion” usado no Hall of Fame, festa da firma em que todo mundo tira seu melhor traje do armário e esbanja a sua elegância (ou não) no red carpet da empresa do velho Vince. Sim, eu não podia deixar este look de fora.
O figurino diz muito sobre o personagem.
Não é segredo pra ninguém que o modo que a gente se veste diz muito sobre quem nós somos, sobre a nossa personalidade ou nosso humor no momento e enquanto eu estava pesquisando sobre o estilo camp e assistindo algumas promos de Seth Rollins, por várias vezes eu me fiz a seguinte pergunta: Os figurinos escolhidos de fato compõe bem a personalidade atual de Rollins? Eu chego a conclusão que sim, pois geralmente os looks mais chamativos, quando bem combinados podem ressaltar o egocentrismo e uma ponta de altivez, pompa ou orgulho de uma pessoa ou no caso, personagem, coisas que são parte da personalidade atual dele (me corrijam se eu estiver errada haha).
O fato é que nenhum figurino é escolhido de forma aleatória, eu tenho certeza que a equipe que cuida desse tipo de coisa pesquisou bastante até chegar em um resultado que pudesse ressaltar essas características, mesmo que uma parte do público achasse isso bizarro (e até isso pode ter sido intencional também, até porque a intenção do camp é justamente causar espanto pelo que é bizarro mesmo). Se um dia eu critiquei os figurinos e a equipe, já não me lembro.
Coleção “Freaking”
Bom, pra vocês verem que eu levei esse texto como um desafio e pensando em tudo que pesquisei, vi e aproveitando que agora eu aprendi a desenhar croquis, resolvi desenhar uma pequena coleção baseada nos looks de Seth Rollins misturados com o estilo camp. Usei um pouco de cada elemento destacado aqui nesses três looks e voilá, essa é a minha interpretação final, espero que gostem hahah (não liguem para os pequenos erros kk).
Enfim, Seth Rollins conseguiu alugar um belo de um triplex na minha mente ao me fornecer materiais para escrever este texto, me fez analisar os detalhes não apenas uma fã de wrestling e espectadora que arrasou com a vida dele em comentários no Twitter , mas também como alguém que estuda, ama e quer a moda como profissão, tendo um olhar mais profundo e voltado para aquilo que eu quero trabalhar. Foi divertido assistir desfiles, o pink carpet do Met Gala, me ver obrigada a assistir o Smack toda semana (não que o Smack seja ruim, não) e perceber que no fundo, eu mesma gosto desse tipo de estilo, gosto muito mesmo (inclusive usaria tudo que eu desenhei aí em cima, principalmente o terceiro look) e acho que isso foi um dos estopins que fez com que eu fosse atrás de tentar justificar tudo que Seth Rollins está vestindo nos últimos tempos e abrir um leque para falar sobre uma fila de superastros que eu sempre quis analisar (Alô Okada, seu momento aqui também vai chegar haha). Enfim, acho que é isso.
Acho que oficialmente está aberto o Modinha na Lutinha, seu mais novo editorial de moda do mundo do Pró-wrestling. Espero que eu tenha entretido e ajudado vocês a conhecer o primeiro de muitos estilos no universo da moda e desculpe se falei alguma besteira, é de praxe haha.
Agora fica na mão de vocês tudo aí, quem e o que vocês querem ver aqui no Modinha? Pode mandar sugestão que a tia tá aceitando, vai ser bem legal escrever mais sobre moda e luta livre aqui! Beijos beijos!